
Lembrei disso hoje porque assisti ao filme Fados (2007), de Carlos Saura. Nele, são mostrados diversas variações do fado e como esse som, que é conhecido por ser tipicamente português, também pode se misturar a outros. Mas mesmos os fados mais alegres parecem manter aquele tom melancólico, que caracteriza a música. “Na minha velha Lisboa de outra vida/ Quem vive só do passado sem motivo/ Fica preso a um destino que o invade/ Mas na alma deste fado sempre vivo/ Cresce um canto cristalino sem idade.”
Quando se toca o fado, faz-se silêncio. Pode-se estar num bar ou restaurante, não interessa o local, todo e qualquer comentário fica pra depois da apresentação. Como se aquele lamento tivesse que ser compartilhado por todos. Não basta ouvir, é preciso sentir. “O tempo vai-se passando/ E a gente vai-se iludindo/ Ora rindo/Ora chorando/ (…)Afinal o tempo fica/ A gente é que vai passando.”
Já reclamei muito do mau humor dos portugueses, do quanto eles são sisudos, carrancudos e intolerantes. Talvez eu tenha herdado um pouco disso também. Mas principalmente, nasci com uma melancolia, uma tristeza no olhar que encontrei em muitos olhos dos lusitanos“Ó gente da minha terra/ Agora é que eu percebi/ Esta tristeza que trago/ Foi de vós que recebi.”
O estranho disso tudo, é o facto de que quando estava em Portugal, todos os dias encontrava alguém pra me lembrar que eu não pertencia àquele lugar. E pior, quando pensei que voltava pra casa, descobri que tampouco o Brasil me acolheria como um filho que retorna. Deve ser esse sentimento de ser eterna estrangeira que Clarice nutria. “Ai de mim se eu pudesse/ Saber o que em mim vai.”
Ps: os trechos citados são de fados presentes no filme.
Um comentário:
Tem como duas pessoas se sentirem assim? Pois cá estou com este mesmo sentimento...
Ótimo post!
Postar um comentário