quarta-feira, 21 de abril de 2010

A cartomante

Não, esse não é o conto do Machado de Assis, essa história é minha. Fui pela primeira vez a uma cartomante hoje. Passei a tarde toda pensando na Macabéa, de A Hora da estrela, foi inevitável. Eu estava numa ansiedade, o que será que ela ia me dizer? Quais seriam as previsões, boas ou más? Meu único desejo era não ter o final trágico das personagens de Machado de Assis e Clarice Lispector! Também não pude ignorar a novela das oito, imagina, previram um acidente e a guria ficou tetraplégica! Mesmo se tratando de ficção, assusta qualquer um. Bom, chegou a hora marcada. Era uma casa humilde, muito bem arrumada e asseada. Nas paredes e sobre os móveis havia muitos quadros e porta-retratos com fotos, todas dela. Me permiti fazer alguma adivinhações também, ela certamente não tinha filhos, mas isso não a fizera menos feliz. Aparecia sempre sorrindo. Sentei pra esperar a minha vez e meus pensamentos não paravam. Fazia um calor insuportável no segundo dia de verão. Será que ela também pode ler o que pensamentos? Tentei, então, parar de pensar, peguei uma revista e comecei a olhar figuras. De repente, me chamaram. Era uma sala pequena e escaldante. “Desculpa, é que não posso ter ventilador por causa das velas”, justificou-se. De fato, havia muitas velas acesas, todas no chão ao lado de santos e orixás. “Qual o teu primeiro nome”, perguntou, respondi. “Corta o baralho em três montes”, pediu. Me senti numa cena de cinema ou de novela mesmo. Ela nem precisava ter dito, eu já sabia o que fazer: sempre se corta o baralho em três montes iguais. Ela começou a virar e interpretar as cartas. Não vou entrar em detalhes sobre o que me foi dito, até porque, ela acertou (acredite se quiser) algumas coisas do passado. O que mais me interessava era o futuro, óbvio, mas o fato de alguém citar alguma coisa que já me aconteceu, deu medo. Crenças e crendices a parte, é impossível não se deixar levar pela curiosidade e por toda a atmosfera mística que envolve esses cenários. Foi uma experiência no mínimo interessante, saí de lá com um misto de euforia e decepção. Euforia porque, claro, é sempre bom acreditar em boas previsões, mas segue a incerteza, inerente a vida, sobre o que vem. Provavelmente foram apenas palavras que, como todas – boas e más -, perdem a força com o passar dos anos. Uma das primeiras cartas dizia que tenho a proteção das estrelas. Quero acreditar que pelo menos essa seja verdadeira.

Ps: Acreditando ou não, passei uma semana sem atravessar ruas.

Dezembro de 2009

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