domingo, 18 de abril de 2010

Chico Forever!

O Chico letrista sempre me agradou mais que o Chico escritor. Até o mês passado, quando li “Leite derramado”. Nada mais natural, uma mente capaz de criar “Trocando em miúdos”, “Apesar de você”, “Folhetim”, “Geni e o zepelim”, escrever um belo romance. Não que os anteriores (Estorvo, Benjamim e Budapeste) não fossem bons, mas nenhum deles despertou em mim o mesmo interesse que a história da família Assumpção. Enquanto lia, não pude evitar a lembrança dos Buendía, de “Cem Anos de Solidão”, de Garcia Marquez. Talvez pelas duas narrativas estarem centradas em universos famíliares, de pessoas solitárias e com repetição de nomes de herdeiros. Enfim, lembranças à parte, “Leite derramado” é narrado por um senhor, num leito de hospital, e é dalí ele conta a saga de sua (outrora) importante e (há muito) decadente família. Embora a memória do narrador se permita alguns devaneios e idas e vindas no tempo, Eulálio d´Assumpção conta dos ancestrais portugueses ao tataraneto mulato num texto conciso e bem articulado, o que instiga o leitor a devorar o livro o mais rápido possível.

Dias depois de ler “Leite derramado” encontrei o livro de Wagner Homem, no qual ele compilou canções composta por Chico Buarque e as histórias que dessas canções. Principalmente pra quem gosta de história, é muito divertido saber como foi feita letra e música, o que acontecia na época, se sofreu censura, etc. Um bom exemplo é “Atrás da porta”, a primeira feita em parceria com Francis Hime e a única, segundo Homem, composta na frente dos outros (já que Chico prefere compor sozinho). A música, de 1972, teve um verso modificado pela censura: “E me agarrei nos teus cabelos/Nos teus pelos” foi substituído por “E me agarrei nos teus cabelos/No teu peito”. Também foram alvo da implacável censura exercída pelo regime militar vigente no Brasil na década 70 “Cálice”, parceria com Gilberto Gil, “Partido Alto”, composta para o filme Quando o carnaval chegar, de Cacá Diegues, “Apesar de você”, que foi a princípio liberada e depois teve do discos recolhidos das lojas e tantas outras. Toquinho, que escreveu a orelha da obra, resume bem a idéia do livro: “Músicas têm histórias e é bom saber delas, principalmente das de Chico.”

Leite derramado, Chico Buarque, Companhia das Letras – São Paulo, 2009.

Histórias de canções de Chico Buarque, Wagner Homem, Leya - São Paulo, 2009.

Trocando em Miúdos: http://www.youtube.com/watch?v=hn4JyodL7K4&feature=related

Um comentário:

Eu disse...

é sempre bom saber mais sobre o velho Chico.